Hospital de Santo António: colocamos o coração em todos os nossos lugares - Notícias - Santa Casa da Misericórdia do Porto

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Hospital de Santo António: colocamos o coração em todos os nossos lugares
⌚ 15.07.2024
Do antes ao agora

Este mês propomos uma visita a mais um dos nossos lugares mais emblemáticos.   

Recordamos como este espaço era no passado e revelamos como o podemos encontrar nos dias de hoje.    

O que mudou?    

Esta rubrica permite-lhe (re)descobrir a nossa história através do nosso património.    

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Colocamos o coração em todos os nossos lugares!  


ENTÃO... SERÁ QUE CONHECE A HISTÓRIA DO HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO?  

Comece por ver o vídeo que preparamos "Do antes ao agora" deste nosso espaço único... 



"De Real Hospital de Santo António a Hospital Geral de Santo António // O Hospital de D. Lopo de Almeida, localizado na Rua das Flores, resultou de uma ampliação da albergaria medieval de Roque Amador e tinha sido traçado com grandeza suficiente para dar resposta às necessidades do burgo portuense do início do século XVII(1). Mas, com o decorrer dos tempos, a par do desenvolvimento da cidade portuense, também, a sua população registou um enorme crescimento, tornando-se, assim, o edifício do Hospital de D. Lopo manifestamente insuficiente para acolher os milhares de pessoas, vindas de toda a parte, mas principalmente do norte do país. Deste modo, a Santa Casa da Misericórdia do Porto resolveu mandar construir um novo hospital, fora dos muros da cidade, que permitisse acolher e tratar convenientemente todos os doentes que a ele acorressem(2)

Em carta datada de 12 de junho de 1767, o monarca D. José I aceita e apoia o pedido que lhe tinha sido dirigido pela Misericórdia do Porto para a construção do novo hospital(3).

Surgiram algumas dúvidas no que respeita à escolha do terreno onde edificar o hospital. Inicialmente pensou-se nos campos de S. Lázaro, mas este local não reunia as condições necessárias para a sua concretização e, por isso, a decisão acabou por recair sobre a compra dos vastos terrenos agrícolas, entre a Cordoaria e os Quartéis, denominados por Casal do Robalo, para a sua implantação(4). A esta escolha foi dado consentimento por D. José I, em 3 de junho de 1768(5).

Sob a inspeção do presidente da Junta das Obras Públicas, João de Almada e Melo, a Misericórdia do Porto contratou o famoso arquiteto inglês, John Carr, para elaborar o projeto do novo estabelecimento, a que deu cumprimento sem nunca se deslocar ao Porto. Após a sua conclusão, em outubro de 1769, procedeu à entrega da planta e alçados de um amplo, enorme e colossal hospital de estilo neoclássico ao gosto neopalladiano:

'um verdadeiro palácio com sua beleza arquitectónica, vastíssima construção de planta rectangular, com pátio interior, no meio do qual se ergueria uma formosíssima capela circular, com seu zimbório. Deveria ter 159 salas e salões, 142 enfermarias, 20.609 portas e janelas!'(6).

A mediação entre Carr e a Santa Casa foi assegurada pelo cônsul inglês e arquiteto amador John Whitehead e pelo reverendo Henry Wood(7). O monumental projeto de John Carr sofreu várias alterações e nunca chegou a ser concluído.

A 15 de julho de 1770 procedeu-se ao lançamento da primeira pedra para a construção do novo hospital, que, por sorteio entre as quatro opções possíveis, passou a designar-se de Santo António. O início efetivo da obra só teve lugar em fevereiro de 1771. Porém, em outubro seguinte, devido à difícil situação financeira da Instituição, foi decidido proceder à interrupção dos trabalhos(8). Em julho de 1777, Manuel dos Santos Barbosa, na qualidade de Mestre Pedreiro da obra do Hospital Novo, assumiu a responsabilidade de acompanhar a execução do projeto e foi incumbido de realizar em duplicado uma cópia das plantas, porque os originais se encontravam em mau estado de conservação, o que dificultava bastante a sua interpretação(9).

Em outubro de 1780, sob justificativa de mau uso do dinheiro, a obra foi interrompida. Mas, onze anos mais tarde, em 1791, pelas mesmas razões que levaram a Mesa de 1766-67 a pretender construir um novo hospital, a necessidade de ultrapassar a incapacidade de resposta do Hospital de D. Lopo, o processo foi retomado e, para tal, Manuel dos Santos Barbosa, foi chamado de novo, para prosseguir com os trabalhos(10). Porém, a falta de verbas para dar continuidade à obra levou a Mesa a dirigir à rainha, D. Maria I, o pedido para a criação de uma lotaria que obteve consentimento através de Carta Régia de 20 de setembro de 1790(11).

Em agosto de 1799, procedeu-se à transferência dos primeiros doentes, todos do sexo feminino, do velho hospital, localizado na Rua das Flores, para a ala sul do novo edifício que, embora em plena fase de construção, passou a funcionar parcialmente(12. Em 1824, o Hospital D. Lopo de Almeida terá sido definitivamente desativado(13).

O primeiro regulamento do novo hospital remonta a 1799, mas ao longo dos tempos sucederam-se vários regimentos e regulamentos.

A Misericórdia do Porto, em 1807, devido às Invasões Francesas, sofreu grandes danos, pois foi saqueada e espoliada de importante património(14). A instabilidade que se estava a viver não permitiu dar seguimento às obras do Hospital de Santo António, porque era necessário canalizar todos os rendimentos para outros fins(15).

Ao longo do século XIX, o edifício do Hospital de Santo António foi alvo de várias intervenções, não só devido à degradação das suas estruturas, mas, também, à falta de adequação relativamente aos avanços verificados nas diferentes áreas do saber médico. As obras eram retomadas periodicamente, contando com o contributo de benfeitores, através de doações e de avultados legados, e, também, dos peditórios que lhes eram dirigidos pela Santa Casa(16).

Na parte superior da fachada principal destacam-se duas estátuas de granito com três metros e setenta e quatro centímetros de altura, as quais, sob o ponto de vista iconográfico, estavam ligadas à medicina nas suas raízes clássicas. No corpo esquerdo a estátua de Galeno, da autoria de António de Almeida Costa, e no direito a de Esculápio(17).

As Régias Escolas de Cirurgia de Lisboa e do Porto foram criadas por alvará régio de 25 de junho de 1825 e, neste contexto, surgiu a 29 de dezembro de 1836 a organização da Escola Médico-Cirúrgica do Porto que, como acontecia com a Escola Régia, se apoiava no Hospital de Santo António para o ensino da prática clínica(18).

Em 1868, o Hospital de Santo António era composto por três pisos e águas furtadas, pelos quais estavam distribuídas várias enfermarias, quartos particulares, botica, secretaria despensa e sala de banhos. Nas enfermarias, além de separadas por sexo, existia divisão das secções técnicas: medicina e cirurgia. Contava, ainda, com duas enfermarias destinadas para sifilíticos(19). Passou, também, a contemplar um novo espaço dedicado à homeopatia(20).

Em anexo ao laboratório de análises e esterilizações foi criado um banco de sangue que começou a funcionar em 1943, com considerável número de dadores(21). Ao longo dos anos, o Hospital foi adquirindo outros serviços.

Em 1974, pelos Decretos-Lei n.º 704/74 e n.º 618/75, a gestão do Hospital passou para a tutela do Estado, passando a Misericórdia a receber 51.825.000$00 anualmente pelo arrendamento das suas instalações(22).

Em 1983, o arquiteto José Carlos Loureiro assumiu o encargo de projetar a expansão do Hospital de Santo António, a poente do edifício existente, em local anteriormente ocupado por jardins e parques de estacionamento. Sem qualquer intenção de dar continuidade ao projeto original, "O novo edifício surgiu como solução controversa, que não adotou uma viragem expressiva, à luz de novos desenvolvimentos urbanos, nem se constituiu como alternativa à orientação clássica original, abandonando as relações formais entre o velho e o novo"(23)

O início da construção da nova instalação hospitalar ocorreu em 1992 e entrou em pleno funcionamento em 1998(24), o que se traduziu num alívio para vários setores das antigas instalações.

***

(1) TAVARES, Domingos - As representações simbólicas, materialidade/imaterialidade: o ministério das artes e da memória. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. II, p. 382.
(2) BASTO, Artur de Magalhães - Origens e desenvolvimento de um grande estabelecimento de assistência e caridade. Porto: ed. autor, 1931, p. 22.
(3) ALVES, Joaquim Jaime B. Ferreira - O Porto na Época dos Almadas. Arquitectura. Obras Públicas. Porto, 1988, vol. I, p.136.
(4) BASTO, Artur de Magalhães - Origens e desenvolvimento de um grande estabelecimento de assistência e caridade. Porto: ed. autor, 1931, p. 22-23.
(5) ALVES, Joaquim Jaime B. Ferreira - O Porto na Época dos Almadas. Arquitectura. Obras Públicas. Porto, 1988, vol. I, p. 136.
(6) BASTO, Artur de Magalhães - Origens e desenvolvimento de um grande estabelecimento de assistência e caridade. Porto: ed. autor, 1931, p. 22.
(7) ALVES, Joaquim Jaime B. Ferreira - O Porto na Época dos Almadas. Arquitectura. Obras Públicas. Porto, 1988, vol. I, p. 137.
(8) ESTEVES, Alexandra - Do Hospital D. Lopo de Almeida ao Hospital de Santo António. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. II, p. 290.
(9) FERREIRA E SILVA, José - Manuel dos Santos Barbosa. Mestre e Diretor da obra do Hospital de Santo António (1774-1780 e 1791-1793). In SCMP (coord.) - Misericórdia, Liberdade, Património. Porto: SCMP, 2021, p. 263.
(10) TAVARES, Domingos - As representações simbólicas, materialidade/imaterialidade: o ministério das artes e da memória. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. II, p. 401.
(11) ALVES, Joaquim Jaime B. Ferreira - O Porto na Época dos Almadas. Arquitectura. Obras Públicas. Porto, 1988, vol. I, p. 154. 
(12) ESTEVES, Alexandra - Do Hospital D. Lopo de Almeida ao Hospital de Santo António. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. II, p. 292.
(13) BASTO, Artur de Magalhães - Origens e desenvolvimento de um grande estabelecimento de assistência e caridade. Porto: ed. autor, 1931, p. 27-28.
(14) ESTEVES, Alexandra - Do Hospital D. Lopo de Almeida ao Hospital de Santo António. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. II, p. 293.
(15) ESTEVES, Alexandra - Do Hospital D. Lopo de Almeida ao Hospital de Santo António. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. II, p. 293-294. 
(16) COUTO, Manuel; ESTEVES, Alexandra - A saúde do corpo - o Hospital de Santo António (1820-1910). In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. III, p. 317-318.
(17) ASSUNÇÃO, Maria Manuela Baptista - As representações simbólicas, materialidade/imaterialidade: o ministério das artes e da memória. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. III, p. 395-396.
(18) AtoM, Subfundo HGSA - Hospital Geral de Santo António. Disponível em: https://atom.scmp.pt/index.php/hospital-geral-de-santo-antonio-2. Consulta realizada a 10.7.2024.
(19) COUTO, Manuel; ESTEVES, Alexandra - A saúde do corpo - o Hospital de Santo António (1820-1910). In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. III, p. 327.
(20) AtoM, Subfundo HGSA - Hospital Geral de Santo António. Disponível em: https://atom.scmp.pt/index.php/hospital-geral-de-santo-antonio-2. Consulta realizada a 10.7.2024.
(21) SILVA, Helena da - A força dos pobres e a condição humana: vigiar, acudir e prevenir. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. IV, p. 225. 
(22) SILVA, Helena da - A força dos pobres e a condição humana: vigiar, acudir e prevenir. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. IV, p. 233. 
(23) TAVARES, Domingos - As representações simbólicas, materialidade/imaterialidade: o ministério das artes e da memória. In AMORIM, Inês (coord.) - Sob o Manto da Misericórdia. Porto: Almedina, 2018, vol. IV, p. 307. 
(24) Centro Hospitalar Universitário do Porto - Santo António. Memória e Património Cultural. Disponível em: https://www.chporto.pt/v0B0E/historia. Consulta realizada em 11.7.2024." 


Fonte: Arquivo Histórico da Misericórdia do Porto 


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